sábado, 16 de janeiro de 2010

Moda sustentável e eco-Fashion

Desde o aparecimento das primeiras civilizações humanas, a utilização do calçado e do vestuário é guiada por valores sociais e culturais. A moda é uma forma de expressão individual e o estilo é uma escolha pessoal. Quem tem estilo, adopta uma atitude sustentável, porque faz escolhas de forma consciente e não se deixa converter em escravo da moda. Mas a moda hoje é ecológica, um sinal de inovação e criatividade. Estar na moda, evitar o desperdício e aumentar a vida útil de cada peça de vestuário ou calçado guardados no armário é o lema de quem veste a camisola pelo Planeta.

Moda sustentável e eco-fashion

O conceito de moda sustentável (eco-fashion) apareceu graças ao público cada vez mais exigente do mundo da moda, em relação à origem dos produtos e à diferenciação de marcas que utilizam materiais ecológicos e formas mais sustentáveis de produzir vestuário e calçado.

Essa busca iniciou-se desde a década de 70 do séc. XX, com o movimento hippie, e intensificou-se na primeira década do séc. XXI. A jornalista inglesa Sally Lohan, do WGSN, prestigiado site de moda internacional, assume que a consciência ecológica na moda deixou de ser moda hippie, e o vestuário e o calçado perderam o carácter artesanal daquele movimento, para assimilar novos designs e utilizar tecnologias mais sustentáveis de produção e distribuição.

Por outro lado, a eco-fashion deixou de ser produzida exclusivamente por estilistas freelancer e o conceito integra hoje colecções com etiqueta de marcas e estilistas da moda internacional, demonstrando ser possível criar peças de vestuário que não explorem os recursos naturais (como água e energia), utilizem ou reutilizem fibras têxteis, sejam atractivos do ponto de vista de design e tecnologia e, simultaneamente, satisfaçam as exigências dos consumidores mais preocupados com o ambiente.

No entanto, a maior novidade e o maior desafio do mundo da moda são as roupas produzidas com material reciclável, como resíduos de plástico do tipo PET (politereftalato de etileno) transformadas em tecido, e resíduos de couro, cortiça e pneus usados transformados em sapatos da moda. Na bijutaria, a utilização de madeiras naturais, cortiça, vidro e plástico são também tendências crescentes.


A moda a partir da Natureza

A maioria do vestuário utiliza fibras químicas, artificiais ou sintéticas. No primeiro grupo, a regeneração de polímeros naturais (como a celulose) dá origem a novas fibras como a viscose e o acetato. No segundo grupo, incluem-se fibras produzidas pelo Homem utilizando matérias-primas da indústria petroquímica, como o poliéster, a poliamida, o acrílico, o polipropileno e o poliuretano elastomérico, também conhecido como elastano.

A moda sustentável prescinde ou minimiza a aplicação de fibras químicas, é feita de materiais reciclados, tecidos orgânicos, couros alternativos e novas fibras naturais. As fibras naturais podem ser de origem vegetal (como o algodão e o linho), animal (como a lã e a seda) e mineral (como o amianto). As fibras naturais, de origem vegetal ou animal, são matérias-primas renováveis, costumam ser mais agradáveis ao toque e absorvem melhor a humidade do corpo.

Entre as fibras naturais mais utilizadas no vestuário ecológico, destacam-se o algodão orgânico e o bambu. O algodão orgânico é cultivado sem o uso de pesticidas, fertilizantes químicos e reguladores do crescimento. O cultivo de algodão pelo sistema convencional consome um quarto da produção de insecticidas em todo o mundo. Na versão orgânica, os agricultores não utilizam substâncias químicas, potencialmente tóxicas para o ambiente e para a saúde e reciclam água nas plantações para diminuir o impacto ambiental. Para ser 100% orgânico, são ainda usados pigmentos naturais no processo de tingimento. O bambu é uma planta de crescimento rápido, reproduz-se em abundância, sem o uso de pesticidas e fertilizantes e a sua fibra é naturalmente antibactericida, biodegradável e extremamente macia. Tem características adequadas a cada estação do ano: fresca no Verão e quente no Inverno.


Reciclar roupas: renovar o guarda-roupa sem consumir o planeta!

Se tem um grande guarda-roupa para cada estação, pode significar que a maioria das suas compras de vestuário é feita por impulso consumista associada à necessidade de acompanhar as últimas tendências de moda. A época de saldos é sempre uma tentação a cada nova estação, mas a maioria das vezes não existe uma real necessidade que justifique o acto da compra. E quanto maior o seu guarda-roupa, maior é o consumo de recursos naturais do planeta necessários para a sua produção e distribuição.

Ser um consumidor responsável no mundo da moda implica também verificar a etiqueta das roupas e calçado, avaliar quais as matérias-primas de que são feitos e a origem dos produtos. Pense bem no momento de adquirir mais uma peça de roupa ou um par de sapatos. E sempre que essa compra se justifique, retire outra que já não utiliza para dar-lhe uma outra utilização ou doar a instituições de caridade.

Muitas vezes, as peças de roupa sofrem pequenas nódoas ou rasgões com o tempo de utilização. O último grito da moda pode não ser comprar uma nova peça de vestuário ou calçado, mas reutilizar e reciclar roupa ou calçado velho que já não lhe servem, ficaram esquecidas no armário ou que estão fora de moda.

Como o pode fazer? Pode entregar essas peças em lojas de vestuário ou calçado em segunda mão que fazem a revenda, para nova utilização ou adaptação. Mas, se gostar de trabalhos manuais, esta pode ser uma boa sugestão para os seus tempos livres e assim criar um novo e exclusivo guarda-roupa. Existem no mercado tintas adequadas para pintura de tecidos, em diferentes cores e texturas, que depois de aplicadas podem tornar mais bonitas a sua roupa, com tolerância a lavagens e secagens sucessivas. Com um motivo de desenho e as cores adequadas, mãos à obra! E qualquer peça pode ser renovada, desde calças de ganga, t-shirts, camisolas, bonés e chapéus, etc. O mesmo pode fazer com outros objectos em casa como caixas, baús, guarda-jóias, quadros, vidros, louça, panos, naperons, toalhas, etc. Utilize outros materiais, como pedrinhas, conchas do mar, etc. Dê largas à sua imaginação e ajude o ambiente!

Combinar as suas peças esquecidas no roupeiro com outros acessórios através de pequenas aplicações pode ser uma excelente forma de reciclagem. Para dar um novo look, pode alterar golas e os punhos, aplicar novos botões, pregadeiras, cintos e fivelas. A moda pode ser divertida e criativa, sempre com um toque pessoal e exclusivo.


Reciclagem industrial de fibras têxteis

Actualmente, é possível reciclar fibras têxteis, naturais e artificiais, para aplicação na indústria de papel-moeda, fiação e tecelagem, automóvel, mobiliário, metalurgia, produtos medicinais, etc. A empresa espanhola Texlimca, instalada em Portugal, no concelho de Vila Nova de Gaia, faz a recolha e reciclagem/reutilização de roupas e sapatos usados pelos munícipes deste concelho e pretende alargar a sua actividade a outros concelhos do país. Sob a marca portuguesa Wippytex, esta empresa consegue recuperar até 90% da roupa e calçado depositado em contentores próprios. A roupa é destinada para a confecção de outros artigos têxteis e materiais (trapos de limpeza, por exemplo) ou revenda para países em desenvolvimento.

Estilistas e marcas inspirados na moda ecológica

Estilistas e marcas do mundo da moda e da alta-costura lançaram ou expandiram linhas especiais de vestuário e acessórios com materiais orgânicos e mais sustentáveis, por exigência dos seus consumidores, cada vez mais preocupados com os impactes sobre o ambiente das marcas e produtos que consomem.

A estilista inglesa Stella McCartney defensora dos direitos dos animais, não utiliza couro ou peles de animais nas suas colecções. Para além disso, possui uma colecção de roupa à base de materiais orgânicos, e outra sazonal com materiais alternativos mais amigos do ambiente e novos designs como, por exemplo, malas feitas à base de milho, 100% biodegradáveis. Na passerelle da moda mais sustentável, a marca Stella McCartney minimiza e compensa as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera de todas as colecções e desfiles e a própria estilista dá conselhos práticos para um estilo de vida mais ecológico no seu site da Internet.

O criador nova-iorquino de origem asiática Phillip Lim é mais um exemplo de que o mundo criativo da moda não põe de lado as preocupações ambientais dos seus consumidores. A linha Go Green Go integra a sua primeira colecção e inclui peças orgânicas em algodão e outros materiais naturais, num estilo trendy. Outros estilistas como Oscar de la Renta, Anna Cohen, John Patrick Organic, Linda Loudermilk, e marcas de vestuário e calçado como Patagonia, Armani e Levis são exemplos de assimilação do conceito de moda mais sustentável com linhas de algodão orgânico e materiais ecológicos inovadores, como fibras têxteis de bambú, pó de café, milho e algas, nas suas colecções.

A socióloga americana Diane Crane, autora do livro "A Moda e seu Papel Social" afirma que as roupas e acessórios que contribuem para a preservação do planeta estão na moda. Um exemplo do sucesso desta tendência no mercado da moda foi o lançamento de uma bolsa de algodão orgânico da estilista Anya Hindmarch em 2007. “I’m not a plastic bag” (Não sou um saco de plástico) pretendia sensibilizar para o impacto dos sacos de plástico descartados no ambiente. Foi um sucesso de vendas em supermercados na Inglaterra, um fenómeno reconhecido pela revista norte-americana de moda Vanity Fair.

A moda pode também servir como veículo de difusão de uma nova consciência social e ambiental. Ali Hewson e o cantor Bono, da banda irlandesa U2, criaram em 2005, a EDUN, uma marca de roupas com tecidos orgânicos produzidos por comunidades locais em África. A EDUN assume a responsabilidade social e ética da marca através da criação de negócios e emprego sustentável e do compromisso com os princípios do comércio justo nos países em vias de desenvolvimento, particularmente na África Sub-Sahariana. As T-shirts produzidas pela marca são em algodão orgânico, 100% biodegradáveis. A marca EDUN está presente na Índia, Perú, Tunísia, Quénia, Lesoto, Ilhas Maurícias e Madagáscar.

A moda ecológica pode também reflectir a adopção de comportamentos e estilos de vida mais sustentáveis das sociedades actuais. Na Europa e nos Estados Unidos, as marcas de vestuário e calçado, especializadas em moda ecológica, estimulam a criação de comunidades de consumo mais sustentável como a Organic Avenue, em Nova York.

A marca inglesa Marks & Spencer e a japonesa Uniqlo apostaram em campanhas para incentivar os seus consumidores a reciclar e reutilizar roupas usadas. Os materiais em bom estado de conservação descartados pelos consumidores são enviados para doação a campos de refugiados em países em desenvolvimento. O restante é transformado em novas fibras têxteis, utilizadas para sistemas de isolamento térmico industrial ou convertidos em matéria-prima para produção de energia. Em troca, os consumidores ganham vouchers de desconto para utilizar em novas compras.

A campanha COTTON. FROM BLUE TO GREEN, da marca DENIM, foi criada em 2006 para a reciclagem de calças de ganga e sua transformação em fibras têxteis para isolamento térmico de habitações sociais e centros comerciais. Com a ajuda da National Geographics Kids e o exemplo carismático de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América, esta campanha assume como objectivo o registo no Livro de Recordes do Guiness como a maior colecção mundial de vestuário destinada a reciclagem. A intenção e os benefícios destas campanhas vão para o ambiente, tornando a moda consciente e responsável uma forma de contribuir para uma vida melhor no planeta.

Cosmética orgânica: a beleza mais natural

A utilização de produtos naturais, nomeadamente essências, óleos e plantas naturais, tem sido cada vez mais utilizada no mundo da cosmética, sobretudo em países europeus como a França e a Alemanha. A preocupação em tratar a pele e os cabelos, evitando os produtos químicos agressivos para a saúde e para o ambiente, tem aumentado entre os consumidores e é simultaneamente assumida como uma nova exigência do mercado da cosmética. Os produtos de cosmética com componentes orgânicos são uma alternativa aos produtos sintéticos, principalmente para pessoas com maior sensibilidade para alergias e irritações de pele. No entanto, o marketing exacerba a composição dita orgânica dos produtos de cosmética, através da publicidade, sem garantia ou certificação da sua verdadeira composição para o consumidor.

Na União Europeia, não existem regulamentos legais uniformizados entre os diferentes países que atendam às dificuldades dos consumidores em identificar cosméticos mais amigos do ambiente e seguros para a saúde e, simultaneamente, garantam a qualidade dos produtos de cosmética natural. Alguns sistemas de certificação têm sido definidos para garantir a conformidade segundo padrões de qualidade e segurança em alguns países europeus, como as certificações da ECOCERT (França) e da SOIL ASSOCIATION (Reino Unido).

A ECOCERT certifica produtos e empresas de produtos de cosmética (fornecedores e produtores) e determina que um produto de cosmética natural ou orgânico certificado deverá apresentar um conteúdo mínimo de 95% de ingredientes naturais e máximo de 5% de ingredientes sintéticos. Para além disso, 50% dos ingredientes à base de plantas devem estar certificados como provenientes de agricultura biológica, no caso de um produto natural. Para um produto natural e orgânico, o conteúdo mínimo de ingredientes à base de plantas certificados, provenientes de agricultura biológica, deverá ser de 95%. Para garantir que todos os produtos têm ingredientes de origem orgânica, a certificação ECOCERT determina um conteúdo mínimo de 5% de ingredientes orgânicos certificados relativamente à composição total do produto para estar em conformidade com as especificações de produto natural. Este conteúdo mínimo deverá ser de 10% para um produto orgânico e natural. Em ambos os casos, o conteúdo máximo de ingredientes sintéticos não deverá ultrapassar os 5% relativamente à composição do produto final. A embalagem de produtos de cosmética certificados deve ser reciclada, sem a utilização de químicos e tóxicos e com o mínimo consumo de energia e impacto no ambiente.

Por sua vez, a SOIL ASSOCIATION realiza a certificação de produtos cosméticos de origem orgânica, através de auditorias e inspecções anuais aos sistemas de produção e processamento dos cosméticos, a validação de fórmulas e rótulos, a garantia da não utilização de organismos geneticamente modificados (OGM) e de um conteúdo mínimo de 95% de ingredientes orgânicos, indicado na embalagem do produto.

A ausência de regulação e a dificuldade de harmonização da indústria cosmética a nível europeu dificulta o aparecimento de um sistema de certificação de produtos cosméticos orgânicos uniformizado. As normas COSMOS são um esforço de uniformização internacional para a criação de um sistema normativo para a certificação para produtos cosméticos orgânicos, em todos os países europeus. Estas normas são da responsabilidade de várias associações de certificação como a BDIH (Alemanha), a BIOFORUM (Bélgica), a COSMEBIO e a ECOCERT (França) o ICEA (Itália) e a SOIL ASSOCIATION (Reino Unido), as quais garantem ainda o cumprimento da legislação nacional e europeia, como a directiva comunitária sobre produtos de cosmética (Directiva Comunitária 76/768/CEE do Conselho e suas alterações posteirores) e o Regulamento REACH da Comunidade Europeia sobre substâncias perigosas (Regulamento nº 1907/2006).

A preocupação dos consumidores com os impactes dos produtos de cosmética na saúde e no ambiente e a necessidade de certificação de produtos de origem natural e orgânica segue a tendência europeia em países como os Estados Unidos da América e o Canadá. “The Campaign for Safe Cosmetics” é um movimento organizado de várias organizações não governamentais de ambiente e saúde pública que tem como objectivo proteger os direitos dos consumidores em relação à indústria dos cosméticos e de produtos de higiene, dirigindo o consumo para produtos mais amigos do ambiente e mais seguros para a saúde dos consumidores.

Pode seguir alguns conselhos práticos na compra de produtos de cosmética orgânicos. Informe-se sobre os ingredientes utilizados na indústria da cosmética, nomeadamente os derivados do petróleo como os parabenos, os ftalatos e o formaldeído, todas substâncias carcinogénicas. Verifique a composição dos seus cosméticos e produtos de higiene, as quantidades e percentagens de cada ingrediente descrito nos rótulos. Elimine aqueles que contenham produtos que possam ter impactos na sua saúde e no ambiente (possam poluir o ar, as águas e os solos com substâncias perigosas). Procure substituir esses produtos por outros mais seguros e fiáveis e que contenham na sua composição substâncias mais amigas do ambiente e da sua saúde.


Fonte:planetazul.pt

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