sexta-feira, 9 de abril de 2010

Falta mão-de-obra


As empresas de vestuário na China, localizadas nas principais zonas de exportação, estão a registar dificuldades em encontrar trabalhadores. A situação resulta não apenas das políticas de controlo da natalidade, mas também dos incentivos governamentais destinados a promover a sua localização de empresas no interior.


Um ano depois dos fabricantes chineses despedirem milhões de trabalhadores para lidarem com o declínio das exportações, muitos estão agora a sofrer com a escassez de mão-de-obra, necessária para responder à retoma na procura dos retalhistas ocidentais. Face a este cenário, as empresas chinesas temem ser forçadas a aumentar os salários este ano, para conseguirem atrair trabalhadores suficientes.

O problema é comum nas semanas após o Ano Novo Chinês, quando os trabalhadores migrantes viajam de férias para casa. Mas, ao contrário do que era habitual, milhões de trabalhadores não regressaram aos centros de exportação.

James Fu, director geral da Quanzhou Green Garments, na província de Fujian, no Leste da China, referiu que apenas 70% dos seus trabalhadores tinham regressado. «É melhor do que em muitos outros casos nesta cidade, mas ainda precisamos encontrar mais. Agora o plano de produção está muito apertado», acrescentou Fu

Em Guangdong, algumas fábricas estão a ficar atrasadas nos planos de produção, porque não conseguem encontrar trabalhadores suficientes. Muitas estão a oferecer bónus e salários mais elevados.

Uma das razões porque os trabalhadores não regressaram às fábricas deve-se a um enorme programa de estímulos do governo chinês para a criação de postos de trabalho no interior do país. Mas outros apontam que o problema não é novo. Esteve encoberto pela crise e simplesmente regressou. «Apareceu no ano passado e no ano anterior houve um pequeno sinal. Mas este ano é muito grave», afirmou John Wong, director de exportação da Red Kids, outra empresa com sede em Quanzhou.

O número de operários da China está em declínio, com a política do filho único a reduzir a quantidade de jovens que exige trabalho. A geração mais jovem possui também mais formação e não está disposta a aceitar as mesmas condições que os seus pais. «Os trabalhadores jovens estão a tornar-se cada vez mais exigentes. Para aceitarem um emprego na cidade, tem que haver um valor acrescentado», explicou Geoffrey Crothall, porta-voz da China Labour Bulletin, uma ONG que defende os direitos dos trabalhadores. Crothall adiantou ainda que a actual situação de escassez de mão-de-obra deve ser atribuída aos baixos salários nas fábricas: «os salários nas principais áreas de produção não estão a subir o suficiente». «O salário básico no Delta do Rio Pérola é ainda pouco mais do que o salário mínimo, que foi congelado entre os 770 e 1.000 yuan (83,64 e 108,63 euros) desde que a crise atingiu os mercados no final de 2008», prosseguiu Crothall.

Algumas empresas estão a considerar migrar para o interior, mais perto da oferta de trabalho rural. Estas podem beneficiar dos baixos impostos e de outras políticas governamentais destinadas a reduzir a diferença de rendimentos entre os residentes nas cidades costeiras e os das regiões mais pobres. Mas muitas fábricas terão simplesmente de pagar mais aos seus trabalhadores e esses custos adicionais serão transferidos para os clientes. «Vamos precisar de aumentar o salário, provavelmente em cerca de 10%, para atrair trabalhadores», revelou Fu. «Isso vai afectar certamente o preço de venda», sublinhou o responsável.

Segundo Crothall, com o aumento da inflação a tornar-se uma preocupação, os governos provinciais são susceptíveis de aumentar o salário mínimo este ano. A província de Jiangsu já reagiu, aumentando os salários em 13%. «As empresas têm eventualmente de acordar e perceber que tiveram tudo de feição ao longo dos últimos 20 a 30 anos e que chegou agora a altura disso mudar», concluiu Crothall

Fonte:portugaltextil.com

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