terça-feira, 8 de junho de 2010

AGOA SUSTENTA TÊXTEIS AFRICANOS.


Antes de receber o Mundial de Futebol, a Cidade do Cabo na África do Sul recebeu a Source Africa B2B. Entre os elementos promotores desta dinâmica comercial encontra-se o Agoa, que permite o acesso privilegiado ao mercado dos EUA.


A África Subsariana continua a lutar pela sua sobrevivência na indústria têxtil e de vestuário global, mas as empresas estão convencidas de que sem o programa norte-americano Agoa, as perspectivas seriam mais sombrias. A precária infra-estrutura e os problemas logísticos são alguns dos impedimentos para que a região se transforme num destino mais atractivo.

Renovação do Agoa
Com a autoridade legislativa do Agoa a ser renovada em 2015, os exportadores africanos de têxteis e vestuário estão preocupados que os seus novos compradores norte-americanos se retirem quando o programa terminar. O problema é que a produção em África ainda apresenta aos fabricantes e aos compradores outros desafios muito mais básicos.

A capacidade limitada e as desvantagens logísticas são abundantes. Subdesenvolvidas, as nações rurais, como Moçambique e Suazilândia, sofrem de fontes de energia irregulares e redes de comunicação pouco fiáveis. E, apesar dos trabalhadores africanos estarem motivados, o nível de competências é muitas vezes rudimentar. «A força de trabalho africana não é apenas menos sofisticada do ponto de vista técnico de costura», afirmou John Maser, vice-presidente de desenvolvimento de vestuário na norte-americana Rocky Brands. «Eles são bons em costuras simples, mas ainda não estamos a fabricar peças complexas aqui».

Muitos compradores na conferência também citaram a dificuldade de obter tecidos de qualidade no continente. «Estamos a tentar ampliar o nosso alcance, mas a falta de bons tecidos é um enorme obstáculo», sublinhou Janine Passley, co-fundador da Ei8ht, uma empresa sediada no Reino Unido, que fornece estratégias de fornecimento sustentável para empresas como a Topshop e a Asos.

Do petróleo ao cobre e aos diamantes, a África é conhecida pelo seu mau controlo das matérias preciosas. A indústria de tecidos não é excepção. Cerca de 95% do algodão é enviado para fora do continente. Com o objectivo de compensar esta situação, o Agoa tem aquilo a que chama uma “regra especial” em vigor para os países menos desenvolvidos da África Subsariana (aqueles com um PIB per capita abaixo dos 1.500 dólares em 1998, que exclui a África do Sul). Isto permite-lhes o direito de acesso isento de quotas e tarifas para os tecidos originários de qualquer lugar do mundo, sem arriscar o seu estatuto crítico de “Made in Africa” ao abrigo do Agoa.

Concorrência chinesa
A economia chinesa é outro obstáculo, sobretudo para a África do Sul. A gigantesca amplitude da indústria chinesa e a força da moeda sul-africana, o Rand, prejudicaram a indústria têxtil e de vestuário deste país. As exportações sul-africanas de vestuário bateram no fundo em 2009, ficando nos 600 milhões de rands (80 milhões de dólares), comparados com o pico de 2,2 mil milhões de rands (290 milhões de dólares) atingido em 2003. E as exportações de têxteis caíram de 4,5 mil milhões de rands (600 milhões de dólares) em 2008 para 3,9 mil milhões de rands (520 milhões de dólares) em 2009. «Nós simplesmente não podemos competir com a China», afirmou Brian Brink, director-executivo da Textile Federation (Texfed), a organização oficial da indústria têxtil da África do Sul.

Mas provavelmente o problema que mais tem impulsionado o declínio da indústria sul-africana é o baixo custo da mão-de-obra na China (apesar deste poder revelar-se de curta duração). «Simplesmente torna a concorrência desleal», explicou Johann Baard, director-executivo da Cape Clothing Association, «especialmente num país em desenvolvimento como a África do Sul onde dizima a sua base industrial».

Muito a oferecer
Ainda assim, apesar das dificuldades da indústria sul-africana, o Sul da África como um todo tem muito a oferecer aos compradores internacionais e regionais. Para além dos benefícios do Agoa, a maior proximidade do continente aos EUA e fusos horários similares com os da Europa significam uma resposta rápida a encomendas.

Os fabricantes africanos também precisam do trabalho. «A África está com fome de negócios e isso é uma vantagem», revelou Tim Constantine, presidente da norte-americana World Apparel and Design. Constantine referiu ainda que, como uma das economias do mundo em mais rápido crescimento, a China já tem o suficiente “no prato”. «Nós olhamos para as relações pessoais e existe aqui uma clara vantagem. As pessoas querem trabalhar», prosseguiu.

O entusiasmo em relação a África foi palpável na conferência. «Existe tanto potencial em África», afirmou o produtor têxtil Hou sediado na Suazilândia. «Eu acho que quantas mais pessoas vierem aqui para ver, melhor se vai tornar», concluiu o comerciante Kevin Ashton.

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