quinta-feira, 8 de julho de 2010

Empresas entram em campo para a Copa de 2014


SÃO PAULO - A seleção brasileira se despediu da Copa da África do Sul na sexta-feira após uma sofrida derrota para a Holanda. Tristeza na torcida, agitação nos negócios. Agora os holofotes globais estarão voltados para a Copa do Mundo do Brasil em 2014. E muitas empresas já estão escalando seus times para entrar em campo.

Grandes companhias criaram departamentos e gerências para identificar as oportunidades geradas pelo mundial de futebol e pela Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016. Outras empresas mobilizaram pessoas de várias áreas. São nomes de peso como Oi, IBM, Siemens, Dow Química, Dupont e General Eletric.

Domingues (de gravata), da DuPont, e equipe já estão mostrando produtos que vão de construção civil à segurança/ Foto: André Lessa/AE

Essas e muitas outras empresas estão de olho nos R$ 142,39 bilhões adicionais que vão girar na economia brasileira entre 2010 e 2014, conforme estimativa das consultorias Ernest Young e FGV Projetos.

Algumas adotam o estilo do técnico Dunga e mantêm a estratégia em segredo, com medo do ataque adversário. Outras, no entanto, toparam abrir seu treino para o público e contam ao Estado o que oferecem para ajudar o Brasil a transformar o sonho do mundial em realidade.

As novidades vão desde um aeroporto que "monta e desmonta" até banheiros de plástico "à prova de grafite". Surgem produtos específicos para enfrentar ataques terroristas - um problema fora do radar do Brasil, mas presente em eventos desse tipo.

Correndo por fora. Em janeiro, Pedro Almeida foi nomeado para a recém-criada diretoria de Cidades Inteligentes da IBM Brasil. Sua missão é "correr por fora". A Copa já tem fornecedores de tecnologia, mas o que interessa à empresa são os inúmeros projetos que rodeiam o evento. "O mais importante é o legado para as cidades", disse Almeida.

Um dos projetos da empresa é a "sala de situação", que foi feita na África do Sul para os jogos, mas também funciona em Chicago e Nova York. Como nas séries de TV, câmeras e dispositivos de filmagem carregados por policiais capturam milhares de imagens em todos os pontos dos estádios e enviam aos monitores instalados na sala.

"Os dados são analisados de maneira inteligente pelos computadores. Temos um algoritmo matemático que treina o olho da câmera para alertar para situações de perigo", diz Almeida.

Outro ponto forte da IBM será o transporte. A companhia promete criar rotas para os jogos, envolvendo ônibus, metrô e até bicicletas. O torcedor utilizaria o mesmo bilhete - ou seja, não gastaria tempo com filas, nem carregaria dinheiro. Os horários de ônibus e metrô seriam sincronizados para facilitar o deslocamento de tanta gente ao mesmo tempo.

A inovação deve estar presente em todos os lances da Copa. Estima-se que a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, tenha gerado um tráfego de 15 terabytes de dados, o equivalente a 100 milhões de livros. Desde então, a internet só cresceu.

Como patrocinadora do mundial, a Oi será responsável por administrar esse tráfego. A empresa faz mistério e diz que desenvolverá "um minucioso projeto" de soluções adequadas para o evento, cujos detalhes serão divulgados "oportunamente".

A operadora vai levar para as cidades-sede da Copa um modelo-padrão da infraestrutura. Ela acredita que o fato de ter uma cobertura nacional será um trunfo. Em São Paulo, vai prover o serviço por meio de parcerias com outras empresas e por sua rede própria.

Estudo recente da Ernest&Young mostra que tecnologia da informação é apenas uma das áreas beneficiadas pelos jogos. "Não temos dúvida de que os ganhos para o País serão vultosos", disse José Carlos Pinto, sócio da consultoria, que comanda uma equipe de 20 pessoas voltadas só para a Copa. No auge dos preparativos dos jogos, ele espera contar com 200 consultores.

Conforme o levantamento, os setores mais beneficiados serão construção civil, alimentos e bebidas, serviços, TI e turismo e hotelaria. A construção está no topo da lista, com um ganho adicional faturamento de R$ 8,14 bilhões entre 2010 e 2014.

É uma área ampla, que não envolve apenas construtoras. Fornecedores de vários tipos de produtos querem garantir seu espaço. Segundo informações de mercado, uma multinacional está fazendo lobby para que os bancos dos estádios sejam feitos de alumínio em vez de cimento.

Vitrine. A Dupont é uma das empresas mais bem preparadas para ganhar com o evento. Com produtos que vão da construção civil à segurança, promete jogar em qualquer posição. Desde setembro de 2009, a equipe de Julio Domingues, gerente de novos negócios da área de construção, está concentrada nos jogos.

"A Copa é uma vitrine muito importante, com um nível de exposição enorme dos produtos para o mundo", disse o executivo. Um dos produtos da empresa - um material sintético, que é uma combinação de minerais naturais e acrílico - foi usado em dois estádios da África do Sul.

Com esse material, é possível fazer tampos e cubos para as pias dos banheiros e divisórias para os vestiários dos atletas. O material é quase "anti-grafite", porque pode ser limpado facilmente - uma vantagem para evitar as pichações comuns nos estádios.

Domingues conta que já começou a fazer o "corpo a corpo" com escritórios de arquitetura para apresentar os produtos. Ao serem contratados pelas construtoras, os arquitetos serão os responsáveis pela escolha dos materiais.

Outra área da Dupont dedicada à Copa é a de segurança. Marcio Manique, gerente de vendas para segurança pública da empresa, enxerga grandes oportunidades. Ele conta que, no Brasil, a preocupação é a violência urbana, com bandidos disparando tiros nos faróis. Mas em um evento de massa que atrai a atenção do mundo, o País vai enfrentar outra ameaça: terrorismo.

A Dupont está desenvolvendo um colete à prova de balas mais resistente a fragmentos provenientes de explosões e vai trazer uma nova linha de roupas e tecidos para proteção de armas químicas e biológicas. São macacões brancos e amarelos de contenção de doenças como os que aparecem nos filmes de ação.

Outra novidade é um tecido para roupas de bombeiros que aumenta sua resistência ao fogo conforme a temperatura sobe.

"Desde que soube que ia ter a Copa no Brasil, estou trabalhando para trazer esse novo portfólio de produtos", conta Manique. "Já estamos em contato com a Polícia Federal e com os aeroportos para explicar a tecnologia", completa.

Ainda faltam quatro anos para a bolar rolar na Copa do Mundo do Brasil. Mas, para as empresas, os próximos meses serão a fase mais disputada do jogo. É a hora de colocar o time em campo, porque, quando os turistas chegarem, os vencedores do torneio empresarial já estarão definidos.


Fonte:economia.estadao.com.br

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