quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Moda das praias brasileiras dita o padrão mundial

Quando a estilista Paola Robba, 48 anos, 22 deles à frente da Poko Pano, grife paulista de moda praia, fechou um contrato de exportação pela primeira vez, tinha apenas quatro meses de mercado e nenhuma experiência como empresária. "Eu me comprometi a enviar 700 peças para a Venezuela, quando produzia apenas 20 biquínis por dia", lembra. Duas décadas depois, as exportações fazem parte da rotina da empresa, que conta com mais de 500 pontos de venda no exterior, distribuídos por Portugal, Austrália, Estados Unidos, México e Moçambique. Lá fora as criações da estilista custam em média US$ 120 e são usadas por estrelas como Beyoncé.

"No início, para vender ao exterior era preciso fazer grandes modificações na modelagem, ampliar calcinhas e trabalhar os bojos", conta Paola. "Hoje, o estilo brasileiro está em alta e até as americanas querem usar os mesmos modelos que encontram nas areias paulistas e cariocas." Paola viaja com frequência ao exterior para conferir o posicionamento da marca Poko Pano e treinar a equipe para prestar consultoria na escolha do modelo ideal para cada tipo de corpo.

Segundo a empreendedora, um dos segredos da Poko Pano para fazer sucesso no exterior é manter sua personalidade, marcada por muita cor e variedade de formas, atendendo a diferentes tipos de corpos, independentemente da coleção. Para o próximo verão, serão 120 modelos com estampas que remetem à flora e à fauna do Brasil. Com a demanda aquecida no mercado interno, apenas 40% da produção de 120 mil peças/ano seguem para fora do Brasil. Os outros 60% abastecem mais de 400 pontos de venda espalhados pelo país, uma loja própria e uma franquia em Juqueí, litoral norte de São Paulo.

A Poko Pano faz parte de um seleto grupo de exportadores entre as 2.300 empresas especializadas em moda praia espalhadas pelo Brasil, que juntas produzem 274 milhões de peças por ano e movimentam negócios estimados em US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 2,7 bilhões), segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). O mercado interno é o principal canal de vendas da moda praia nacional, já que apenas 1% do que é produzido segue para o exterior, principalmente para os Estados Unidos, Portugal e Itália. Ocupamos a 22ª posição no ranking dos exportadores mundiais do setor, com um volume de negócios de US$ 13 milhões em 2009.

"O baixo percentual de exportações é reflexo direto do baixo investimento na fixação das marcas brasileiras no exterior e do tamanho e demanda do mercado interno", afirma Amnom Armoni, professor do MBA de marketing, gestão e estratégia em moda da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Segundo ele, o Brasil é reconhecido internacionalmente como ditador de tendências de moda no segmento, mas não usa esse trunfo a seu favor para valorizar as marcas no mercado exterior.

Na visão de Francisca de Aquino, coordenadora da carteira de têxtil e de confecção do Sebrae Nacional, as coleções de moda praia possuem cada vez mais valor agregado, apoiando-se em tecidos com tecnologia antibactericida e anticelulite, que secam mais rápido, com proteção contra os raios UV e até mesmo os que mudam de cor dependendo da exposição ao sol. "Os diferenciais não ficam mais por conta apenas da matéria prima, mas da adoção de traços da cultura nacional, como bordados e estampas inspiradas na cultura popular", afirma Francisca. "Todavia, com o crescimento do poder de consumo das classes C e D, o mercado interno tornou-se ainda maior e mais atraente, fazendo com que as pequenas confecções centralizem suas vendas no universo doméstico."

A teoria é confirmada na prática. Com três anos de mercado, a fabricante paulista de biquínis Areia Brancacomeçou suas atividades vendendo para o exterior. Das 8 mil peças produzidas por temporada, 70% seguiam para os Estados Unidos, França, Espanha, Israel e Japão. "Nossos produtos sempre foram muito bem recebidos nas feiras de Miami, Las Vegas e Paris, onde conquistamos clientes fiéis", afirma Fernando Masetti, 30 anos, sócio da Areia Branca. "Temos modelagem mais clássica, o que ajuda a vender no exterior." Disposto a apresentar um produto diferenciado com forte identidade visual, Masetti contou por um ano com a assessoria do Instituto Europeu de Design, que ajudou a marca a desenhar não só a logomarca, mas também as primeiras coleções e a acompanhar de perto a qualidade dos serviços oferecidos pelas oficinas terceirizadas, responsáveis pelo corte e montagem das peças.

Para o próximo verão, contudo, a maior parte da produção tende a ficar no mercado interno, onde a empresa já tem clientes em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. "A ideia é abrir no segundo semestre de 2011 uma loja própria na capital paulista para vender não só maiôs e biquínis, mas também objetos de decoração para casas de praia", revela o empresário. "A meta é crescer 70% no próximo ano e ampliar o faturamento que em 2010 deve fechar em R$ 1 milhão".

Se, na visão dos especialistas, o caminho para o segmento de moda praia fazer fama e negócios no exterior é valorizar o design brasileiro, a estilista Tatiana Hamada, 31 anos, formada em design de moda, já deu um passo à frente. Em sociedade com a amiga Yuka Nagayoshi, ela lançou em 2007, em Tóquio, a linha de biquínis Brasis Design. "Morei 13 anos no Japão e percebi que nenhuma confecção brasileira se preocupava em lançar biquínis com a cara do Brasil, mas adaptado ao perfil das japonesas", conta Tatiana. "A primeira coleção, inspirada em Florianópolis, apresentou modelos com sutiãs maiores e com suporte para bojo, um grande diferencial."

No início, eram 3 mil peças por temporada, agora são 5 mil totalmente produzidas no Brasil e comercializadas em 130 pontos de venda no Japão, entre eles a Isetan, uma das maiores cadeias de lojas de departamento do país. Os cerca de 30 modelos, vendidos a uma média de US$ 130 cada, abusam das cores, dos babados e das sobreposições, ingredientes apreciados pelas consumidoras japonesas. Com um faturamento anual de cerca de R$ 900 mil, a Brasis Design deverá expandir seus domínios em 2011. "Consolidada no Japão, a meta é ganhar espaço nas vitrines dos Estados Unidos e da Austrália", adianta a empresária.

 
Fonte:valoronline.com.br







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