terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Governantes têm que olhar para a moda de forma mais inteligente",

"Governantes têm que olhar para a moda de forma mais inteligente", diz Paulo Borges

Paulo Borges, diretor do Fashion Rio desde 2009, fala sobre o evento

Paulo Borges completa um ano à frente do Fashion Rio, para a edição de inverno 2011 ele é o responsável por assinar a direção criativa do evento que além dos desfiles, contará também com exposição de fotografia em homenagem à estilista Zuzu Angel.

Em entrevista ao Terra, Paulo fala da importância de contextualizar e dissociar os salões de negócios das semanas de moda, sobre os números de empregos gerados e quanto se movimento durante o Fashion Rio, o projeto de revitalização da área do Cais do Porto, e por fim pede para que os governantes olhem para o setor têxtil de forma mais profunda e inteligente.

O que representa para o senhor "alma carioca" e como a moda pode representá-la?

A ideia de trazer o tema para esta edição é, na verdade, fazer um pequeno balanço deste primeiro ano à frente da gestão do Fashion Rio. O nosso projeto e desafio é de longo prazo. Posicionar o Rio como epicentro na moda e design, como protagonista, e para tanto, discutir com seus atores - neste caso, nossos estilistas, designers - aquilo que os inspira, aquilo que os emociona, aquilo que toca em sua alma. É muito importante irmos construindo passo a passo esta percepção de vocação e identidade, de estilo, de inovação. E tudo se reflete num jeito de ser, numa qualidade própria, que se revela em diversos estilos, expressões e histórias, que colaboram com este novo momento de construção da moda e criam novos vínculos. Mas é algo que transcende as imagens de cartões postais e o espaço físico da cidade. A moda leva esse mindstyle para a passarela e contribui para posicionar o Rio como plataforma de design global. Um novo rio, um novo tempo.

O que podemos esperar do Fashion Rio inverno 2011?

Podemos esperar desfiles com mais conteúdo, uma semana de lançamentos coerente com aquilo que estamos planejando e estruturando. A cada edição podemos perceber que todos estão se desafiando mais e mais, e isto é um ponto fundamental para o desenvolvimento da moda e do design. Temos que ter uma moda criativa e inovadora, que consiga criar um caminho de identidade e ser percebida desta forma, porque no caminho inverso, resta somente uma arara com roupas quaisquer, vindas de quaisquer lugares, inclusive do mundo. Além disso, temos como brinde, um lindo cenário com navios ancorados ao fundo, uma exposição de fotos maravilhosa, com curadoria de Mari Stockler e Hiluz Del Priori, celebrando o jeito carioca de ser e fazer moda, além de uma bela homenagem a Zuzu Angel, que tão bem representou nossa força criativa num momento único do Brasil.

Quantos empregos são gerados durante o Fashion Rio e quanto se movimenta no Rio-À-Porter?

Em empregos diretos e indiretos, o Fashion Rio gera em torno de 3 mil empregos, e na última edição de inverno, foram movimentados R$526 milhões no Rio-À-Porter. É importante ressaltar que a vocação e principal estratégia de uma semana de moda, no mundo todo, é servir de convergência para toda cadeia de moda no país. Ela está no topo da pirâmide da moda, e a partir dela, gera-se o desejo, a inovação, a transformação, e isto faz com que todo processo se desenvolva, da criação à distribuição, da informação ao desejo de consumo.

As fast fashion podem representar algum risco às grifes?

O mercado de moda no mundo todo passa por um processo de transformação geral e isto tem a ver com a revolução da informação, o acesso digital, a globalização comercial de fato. Este fenômeno que se resolveu nominar de fast fashion, nada mais é do que mais uma forma de fazer negócio. É claro que ele altera a pirâmide e a cadeia da moda, mas isto é natural dentro de um ciclo de evolução. E se olharmos para trás vamos ver que outros movimentos transformaram a moda e foram sempre complementares. Não acredito em rupturas ou transformações drásticas, mas em processos orgânicos, e é isto que estamos vivendo.

Qual é o grande desafio da moda carioca?

A moda não é carioca. Estamos inseridos em uma plataforma de moda brasileira. Este é o grande desafio: contribuir para esta cadeia que gera milhares de empregos mostrar sua força criativa para o mundo.

A moda deve ser encarada como arte ou negócio?

A moda deve estar imbuída dos dois. Ela precisa da força criativa de todos os estilistas que representamos e que surgem a todo o momento. E também é negócio, que move toda a cadeia produtiva que só vem crescendo no Brasil, gera milhões de empregos, arrecada milhões em impostos. E mais, a moda como design, como força criativa, que é algo novo para nossa história, trouxe para o Brasil um desejo de consumo e valorização do produto nacional como nunca. A partir das semanas de moda, SPFW e Fashion Rio, o brasileiro passou a identificar o produto brasileiro como criativo e de design de forma abrangente, e não de forma absolutamente elitista como era visto anteriormente. Passou-se a ver a moda de fato como uma plataforma de negócio e estratégica para o país.

O Fashion Rio está promovendo a revitalização do Píer Mauá, comente um pouco por favor.

Esta foi a "casa" que demos para o Fashion Rio desde que assumimos a organização do evento. E ela já diz muito sobre a identidade da semana de moda. Muitos eventos passaram a buscar a área do cais do porto depois que levamos as passarelas para lá. E contribuímos para a revitalização de todos os seis armazéns. Mais uma vez estabelecemos o elo entre a moda e a "alma carioca", contribuindo para este reposicionamento de área tão importante para a cidade, e integra o projeto de revitalização da zona portuária, estratégico para as políticas públicas tanto da cidade como do estado.

O fato do Fashion Business ocorrer simultaneamente ao Fashion Rio e Rio-À-Porter traz algum prejuízo?

A dinâmica de operação dos salões de negócios deve ser encarada separadamente da semana de moda, que é o Fashion Rio. Nas grandes capitais onde temos semanas de moda, como Paris, Milão, Londres e Nova York, já é assim. Mesmo em São Paulo, temos vários salões e show rooms acontecendo paralelamente. Isto é comum e o mercado vai se organizando de forma natural e orgânica. O rio está vivendo isto mais recentemente, e vai haver esta transformação, mas que em nada altera a importância do Fashion Rio. Precisamos contextualizar os salões porque eles não são um acessório do que acontece na passarela; eles funcionam separadamente, com mecânicas e dinâmicas independentes, necessidades e estratégias mais imediatas.

Inicio de ano. O que o senhor deseja para a moda nacional?

Uma continuidade no seu caminho de construção, maturidade, criatividade, e que definitivamente estes novos governantes olhem para esta indústria de forma mais profunda e inteligente.

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